Não faz muito tempo, um amigo estava hospedado em um hotel bem conceituado, aqui no Rio, para um congresso. Quase todos os participantes não passavam de seus vinte e cinco anos, vindos de norte a sul do país.
Recebi
um convite, para assistir a uma das muitas reuniões que estariam realizando,
durante uma semana naquele hotel.
Saí
do trabalho e fui direto para lá.
Confesso
que um imenso vazio invadia meu estômago e só pensava em um daqueles
"comes e bebes" que costumam ter durante esses tipos de eventos.
Chegando
ao hotel, fui conduzida para auditório, onde seriam ministradas as palestras.
Já
bem acomodada em uma das poltronas daquele imenso salão, aguardando ansiosa
para que terminassem com o assunto que nem haviam começado, para que se desse
início ao coquetel, apagaram as luzes e ligaram um potente ar condicionado.
Eu,
em pleno verão carioca, como se já não bastasse a fome que invadia minha mente,
comecei a me sentir como o personagem de Leonardo di Caprio na sua última cena
em Titanic, após o naufrágio do navio. Meu corpo estava congelando. Mas o pior
ainda estava por vir.
Quando
me pareceu que a palestra estava chegando ao fim, uma participante resolveu
falar sobre sua teoria a respeito de "Ficar com", ou seja, um termo
usado pela juventude que significa namorar hoje e amanhã nem lembrar o nome da
pessoa que por algumas horas trocou com você beijos, abraços e carícias.
Enquanto
meu estômago falava comigo em três idiomas diferentes, minha mente começou a
ser invadida por uma profunda antipatia por aquela palestrante.
Falando
pausadamente, com toda calma existente nesse mundo sobre "Ficar com",
sem chegar a nenhum lugar, ou concluir coisa alguma sobre toda sua teoria... Eu
já estava a odiando.
Meu
amigo, antes do início das palestras, havia comentado que na noite anterior os
participantes tinham feito uma festa a fantasia, que rolou até a manhã do dia
seguinte, onde todos "ficaram" com alguém – tinham pessoas para todos
os gostos.
Lembrando
disso, olhei para aquela mulher e percebi que a sua insistência nesse assunto
de "ficar com" era fruto de uma experiência traumática : ELA NÃO
HAVIA FICADO COM NINGUÉM, na tal festinha (mais tarde, isso me foi confirmado).
Por
um momento, fiquei sensibilizada, já não a estava odiando tanto como antes. Pobrezinha!
Estava carente, pensei eu. Mas isso não queria dizer que a extensão dada ao
assunto, passou a me agradar.
Comecei
a desejar (sabe com é, estômago vazio a mente também) uma queda de energia. Não
haveriam mais microfones, muito menos super ar condicionado. Talvez no
escurinho, a palestrante até resolvesse seu problema, ficando com alguém.
Infelizmente,
isso não aconteceu.
Mas
eis que da platéia, surgiu o Super Father! Fomos salvos! O pai de um dos
participantes se apossou do microfone e com seus super poderes de um homem
vivido e experiente, deu um basta no assunto.
Passaram
para a apresentação dos vídeos. Ufa!
Ainda
congelando e faminta, tive uma visão. Não! Era real!
Um
belo rapaz de Santa Catarina com uma caixa de papelão, distribuindo algo.
O
que seria?
Esqueci
dos vídeos e mantive meus olhos fixos no rapaz. Percebi que deixava dois ou
três com cada pessoa no auditório. Curiosa para saber o que era aquilo, o belo
exemplar da espécie masculina (tudo de bom), aproximou-se, sorriu e deixou em
minhas mãos uma dúzia de preservativos. Em pensamento, com todo sarcasmo do
mundo, disse para ele que aquela quantidade só daria para dois dias no
máximo... Por acaso não haveria a disponibilidade de uma caixa fechada? Eu
poderia aproveitar mais e tal... Porém brinde é brinde, fazer o que?
Joguei-os
dentro da bolsa e totalmente congelada, comecei a naufragar. Agora, além de
faminta, também ninfomaníaca aos olhos daquele rapaz. Todo mundo ganhou três e
só eu fiquei com doze.
Terminada
a reunião, pois o pior ainda estava por vir: NÃO HOUVE COQUETEL!
Fui
embora decepcionada, mas feliz por estar de volta a uma típica noite de verão
carioca.
Mas,
nem tudo estava perdido.
No
caminho para casa, resolvi abrir a bolsa para ver a marca dos preservativos.
Vai
daí que não tivessem o selo do IMETRO!
E
como se estivesse vendo um oásis no deserto, percebi que se tratava de
"moedas" de chocolate disfarçadas de "camisinhas".
Em
uma coisa eu tinha razão: Não dariam para dois dias; acabei com elas em poucos
minutos.
Cris M C Ramos