terça-feira, 27 de setembro de 2016

Ficar com...


Não faz muito tempo, um amigo estava hospedado em um hotel bem conceituado, aqui no Rio, para um congresso. Quase todos os participantes não passavam de seus vinte e cinco anos, vindos de norte a sul do país.
Recebi um convite, para assistir a uma das muitas reuniões que estariam realizando, durante uma semana naquele hotel.
Saí do trabalho e fui direto para lá.
Confesso que um imenso vazio invadia meu estômago e só pensava em um daqueles "comes e bebes" que costumam ter durante esses tipos de eventos.
Chegando ao hotel, fui conduzida para auditório, onde seriam ministradas as palestras.
Já bem acomodada em uma das poltronas daquele imenso salão, aguardando ansiosa para que terminassem com o assunto que nem haviam começado, para que se desse início ao coquetel, apagaram as luzes e ligaram um potente ar condicionado.
Eu, em pleno verão carioca, como se já não bastasse a fome que invadia minha mente, comecei a me sentir como o personagem de Leonardo di Caprio na sua última cena em Titanic, após o naufrágio do navio. Meu corpo estava congelando. Mas o pior ainda estava por vir.
Quando me pareceu que a palestra estava chegando ao fim, uma participante resolveu falar sobre sua teoria a respeito de "Ficar com", ou seja, um termo usado pela juventude que significa namorar hoje e amanhã nem lembrar o nome da pessoa que por algumas horas trocou com você beijos, abraços e carícias.
Enquanto meu estômago falava comigo em três idiomas diferentes, minha mente começou a ser invadida por uma profunda antipatia por aquela palestrante.
Falando pausadamente, com toda calma existente nesse mundo sobre "Ficar com", sem chegar a nenhum lugar, ou concluir coisa alguma sobre toda sua teoria... Eu já estava a odiando.
Meu amigo, antes do início das palestras, havia comentado que na noite anterior os participantes tinham feito uma festa a fantasia, que rolou até a manhã do dia seguinte, onde todos "ficaram" com alguém – tinham pessoas para todos os gostos.
Lembrando disso, olhei para aquela mulher e percebi que a sua insistência nesse assunto de "ficar com" era fruto de uma experiência traumática : ELA NÃO HAVIA FICADO COM NINGUÉM, na tal festinha (mais tarde, isso me foi confirmado).
Por um momento, fiquei sensibilizada, já não a estava odiando tanto como antes. Pobrezinha! Estava carente, pensei eu. Mas isso não queria dizer que a extensão dada ao assunto, passou a me agradar.
Comecei a desejar (sabe com é, estômago vazio a mente também) uma queda de energia. Não haveriam mais microfones, muito menos super ar condicionado. Talvez no escurinho, a palestrante até resolvesse seu problema, ficando com alguém.
Infelizmente, isso não aconteceu.
Mas eis que da platéia, surgiu o Super Father! Fomos salvos! O pai de um dos participantes se apossou do microfone e com seus super poderes de um homem vivido e experiente, deu um basta no assunto.
Passaram para a apresentação dos vídeos. Ufa!
Ainda congelando e faminta, tive uma visão. Não! Era real!
Um belo rapaz de Santa Catarina com uma caixa de papelão, distribuindo algo.
O que seria?
Esqueci dos vídeos e mantive meus olhos fixos no rapaz. Percebi que deixava dois ou três com cada pessoa no auditório. Curiosa para saber o que era aquilo, o belo exemplar da espécie masculina (tudo de bom), aproximou-se, sorriu e deixou em minhas mãos uma dúzia de preservativos. Em pensamento, com todo sarcasmo do mundo, disse para ele que aquela quantidade só daria para dois dias no máximo... Por acaso não haveria a disponibilidade de uma caixa fechada? Eu poderia aproveitar mais e tal... Porém brinde é brinde, fazer o que?
Joguei-os dentro da bolsa e totalmente congelada, comecei a naufragar. Agora, além de faminta, também ninfomaníaca aos olhos daquele rapaz. Todo mundo ganhou três e só eu fiquei com doze.
Terminada a reunião, pois o pior ainda estava por vir: NÃO HOUVE COQUETEL!
Fui embora decepcionada, mas feliz por estar de volta a uma típica noite de verão carioca.
Mas, nem tudo estava perdido.
No caminho para casa, resolvi abrir a bolsa para ver a marca dos preservativos.
Vai daí que não tivessem o selo do IMETRO!
E como se estivesse vendo um oásis no deserto, percebi que se tratava de "moedas" de chocolate disfarçadas de "camisinhas".

Em uma coisa eu tinha razão: Não dariam para dois dias; acabei com elas em poucos minutos.
Cris M C Ramos