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Eles brigaram feio na noite passada. Ele a pegou online às duas da manhã no Whatsapp e começou a insinuar que ela o estava traindo. Tentou explicar que foi uma vontade involuntária do celular, mas ele não se deu por satisfeito. Já havia se passado três dias e ela não tinha notícias dele. Melhor esperar. Não ia dar o braço a torcer; não dessa vez.
Foi dar uma volta pelo Shopping e colocou algumas peças no carrinho, não tinha certeza se finalizaria a compra, mas comprar sempre foi uma espécie de terapia antidepressiva. Passou por um anúncio onde dizia que o frete seria grátis para todo o país. Acabou se decidindo em ficar com o vestido de bolinhas; estava na promoção mesmo. Comprou. Selecionou o número de parcelas. Confirmou o endereço e anotou o código do produto para rastreamento.
Depois foi até a sua livraria predileta e mais uma vez encheu
o carrinho com todos os livros que gostaria de ler até o final da vida. Abandonou tudo lá sem concluir a compra.
Continuou a peregrinação, se sentia sem rumo, sem sentido.
Chegou ao Facebook por volta das três da tarde, havia ficado atarefada em responder alguns e-mails e teve que faxinar toda a sua caixa de entrada. Sentia-se exausta e confusa. Ele nem sequer lhe enviou uma mensagem. Andou mais um pouco, atualizou o Candy Crush e resolveu instalar o Criminal Case.
Passou pelo aniversário de uma amiga para postar uma imagem de felicitação. Escolheu um bolo com cobertura de chocolate e morangos e colou na linha do tempo dela. Esperava de coração que a amiga gostasse. Parecia estar uma delícia. Lembrava-se de tê-la ouvido falar o quanto amava morangos e chocolate outro dia.
Não se demorou muito no aniversário, tinha um compromisso no Instagram, precisava comentar as fotos de casamento da prima.
Acabou não resistindo e deu uma passada pela página dele, sem que ninguém percebesse, claro. A última postagem havia sido de cinco dias atrás.
Correu até o Twitter e também não havia nada de novo sobre ele lá.
Não queria voltar ao Facebook de novo, mas não tinha outro jeito. Só lá que ela ainda não havia procurado por ele. Teria que deixar mais uma vez o orgulho de lado e se esforçar para se aproximar novamente.
Já era noite, o cansaço já tomava conta de seus olhos e de seus dedos. Estava com fome, cansada, com sono, já não sabia mais quem era.
Procurou uma cara melhor para por no seu profile, cabelo mais arrumado, maquiagem mais leve, tomou coragem e chegou à página dele. Deu de cara com uma foto onde uma fita preta indicava sinal de luto. Alguém havia morrido. Não pensou duas vezes e bateu no Messenger dele e viu que estava online. Ele logo atendeu:
- Oi.
- Oi amor. Estava preocupada com vc. Está tudo bem?
- Passei o dia navegando pela net, pensando e repensando sobre nós dois. No final, eu não tinha mais pra onde ir e vi uma postagem de luto e achei que vc poderia estar triste... Sei lá. Senti um aperto no peito.
- Um amigo de um amigo de um amigo meu faleceu ontem a noite. Ele morava na Austrália, já tinha noventa e nove anos. Foi um choque para todos nós. Eu o conheci ontem através da postagem sobre o velório. Fiquei muito abalado.
- Eu vi o seu luto. Até curti. Não fica assim, amor. Eu estou aqui. Sinta-se abraçado e confortado.
- Já consigo sentir seu abraço quente.
E ali, diante da dor da perda os dois se acham e se reconectam e agora com uma tecnologia 4G. O relacionamento havia amadurecido.
Eles Poderiam teclar a noite inteira e se houvesse uma queda de energia, não teria problema. Os dois agora possuíam um nobreak e daria tempo suficiente para mais um emoji de beijo e abraço.
Viaje bem. Viaje Vasp!
Cris M C Ramos
“"Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho.
Porque se caírem, um levanta o companheiro; ai porém do que estiver só; pois caindo, não haverá quem o levante.
Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só como se aquentará?
“Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade” (Eclesiastes 4:9;12)