sexta-feira, 31 de julho de 2020

Encontros inusitados...


Uma curtinha que me veio à memória hoje pela manhã...
Certa vez eu estava desenvolvendo um projeto de sinalização para um grande hospital em meu Município. Início da minha carreira como Programadora Visual.
A pressão era bem grande em cima de mim, pois eu não tinha vínculos políticos ou partidários. Eu era simplesmente alguém que se candidatou a prestar um serviço e foi dada a oportunidade. Eu não tinha indicações, nem as costas quentes como costumam dizer por aí. 
Enfim, marcaram comigo para apresentar o Projeto de Sinalização e Revitalização do Hospital na véspera do Natal para toda a diretoria e uma junta médica. Se eu estivesse falando de mar, eles seriam os tubarões (eu um peixinho fora do cardume), para você ter uma ideia do poder de decisão daquelas pessoas.
A semana que antecedeu a apresentação foi movida pelos últimos acertos, revisões e mais revisões com direito a ensaios na frente do espelho, me fazendo esquecer ou deixar de lado as preparações da festa natalina.
Então, na véspera do Natal eu estava lá munida de muitos papéis, apresentação em Power Point, vestes adequadas e formais, tudo no mais alto padrão de profissionalismo que eu tinha ideia.  Fui preparada para impressionar e ganhar o serviço.
A tensão era tanta, que a reunião foi se transformando em uma pedra de gelo.
No meio da reunião, sem bater na porta, entrou uma pequena senhora de cabelos brancos, com sorriso largo dando boa tarde a todos. Miúda como um passarinho. Eu já a tinha visto pelos corredores com uma vassoura e um carrinho de lixo.  Caminhou na minha direção, se aproximou, segurou meu rosto com suas mãos me obrigando curvar a minha cabeça e olhar direto em seus olhos, enquanto me dizia com muita doçura “Feliz Natal pra você”. Em seguida beijou-me a testa.
Eu não sei explicar o que aconteceu, mas toda aquela tensão desapareceu. Eu retomei a reunião muito mais leve, fiz até piadas descontraindo a todos.  No final, ganhei a licitação e fiz todo o serviço de sinalização do Hospital Municipal. Comecei o novo ano com um grande trabalho lucrativo que abriu portas para outros.
Não sei você, mas de vez em quando acho que encontro Deus por aí, em diferentes situações e funções, esperando ser reconhecido por alguém em seus gestos de amor e carinho.
É sério! Esbarro com Ele por aí e às vezes eu tenho até o privilégio de ganhar um beijo ou um abraço... E a eu fico como quem sonha, feliz e em paz sem nem entender o porquê. 

C M C Ramos
                                                   (Nem foi tão curtinha assim, não é?)

terça-feira, 21 de julho de 2020

Em terras distantes...



“Sim, eu posto poesias e fotos de lugares que gostaria de conhecer antes de morrer. Sim, eu escrevo e ilustro livros!”

Um amigo a quem amo muito e acredite quando digo que amo, pois é amor de verdade. Desses que já dura um tempo desde que todo mundo era magrelo e a borracha grande e verde tinha todas as respostas da prova. Desses que persistem por mais de três décadas e que acredito durará por toda a minha eternidade, porque amor de verdade é assim.

Pois bem, ele costuma dizer que vivo em um conto de fadas, em Nárnia, no País das Maravilhas...

Hoje pensando em algumas coisas que vivi dentro de orfanatos, abrigos, escolas... E hospitais (mesmo negando com todas as minhas forças que eu seja palhaça). Cheguei a conclusão de que ele tem razão. 

Tenho vivido cercada de Príncipes e Princesas em um vasto Reino que começa aqui onde estou agora e vai muito além das terras que meus olhos conseguem ver. Além Paravel, além das Terras de Guarda-Roupas, das montanhas, de outros planetas.

Nesse Reino, Príncipes e Princesas têm travado batalhas todos os dias. 

Alguns entram em uma guerra para aprender a matemática e o português.Outros sonham em viver em um castelo onde existam um rei e uma rainha que os ame e cuide bem deles.

Às vezes o coração aperta quando uma Princesa consegue realizar o sonho e a gente lembra que tem mais duas pequenas irmãs que serão deixadas para trás. Aí o milagre acontece e o novo castelo é bem grande para acomodar as três e tem até piscina. E a gente se despede na torcida de que tudo dê certo.

Tem aqueles que vivem em um mundo só deles e nos deixam entrar de vez em quando.

Outros voam por aí em suas cadeiras intergaláticas.

Existem também os Príncipes e Princesas que travam batalhas, em duelos de espadas, todos os dias. Alguns perdem os cabelinhos, as pálpebras, mas nunca suas coroas. Às vezes nos deixam e vão para um Reino muito melhor, um lugar que meus olhos nunca viram e meus ouvidos nunca ouviram com exatidão sobre o quão belo ele é. 

Tem aqueles que lutam pela sua infância interrompida. Precisam de reforços na linha de batalha. E o coração fica em pedaços quando não conseguimos chegar a tempo.

Meus Príncipes e Princesas são todos desenhistas. Desenham e pintam com maestria. Nos traços e cores se expressam nos permitindo ver um mundo onde existem as ameaças dos lobos e dragões, muitas das vezes no próprio convívio deles. E começamos o regaste. O caminho para salvá-las não é fácil e temos que passar por ele duas vezes. Ida e volta, protegendo a realeza em uma estrada que machuca, que nos tira o sono, mas extremamente necessária. 

Certa vez comprei sabonetes para um pequeno grupo de Princesas que nunca os havia usado na vida. 

Uma delas me chamou muito a atenção, na época com sete anos. Ela esfregava insistentemente uma região da coxa, próxima a virilha a ponto de deixar vermelho. Aproximei-me para saber o que estava acontecendo e percebi que havia marcas de queimaduras feitas com pontas de cigarros ali. Talvez achasse que fossem sabonetes mágicos que apagariam, limpariam...

Existem cicatrizes que nunca conseguirei apagar.

Eu também tenho travado as minhas próprias batalhas e acredito que cada um de vocês também. 

Não dá pra medir se as minhas são maiores que as suas e vice versa. As coisas que sentimos na pele são pessoais e únicas.

No meu País das Maravilhas, tem valido a pena conhecer esses Príncipes e Princesas e até perder o sono por cada um deles. Deixa-los pentear os meus cabelos em um dia de beleza inventado. Subir os mais altos montes, enfrentar o perigo e as áreas proibidas, pra convidar familiares para apresentações de Natal, confiante de que não acontecerá um momento de conflito antes que você consiga descer de lá. No fundo do coração o desejo de que eles nunca mais aconteçam e que todos vivam em paz.

Nem sempre os dias são de sol, no meu País das Maravilhas e de milagres, mas nós estamos aprendendo a lidar com a chuva também, para que no final de tudo a gente possa, ainda que exaustos, ter a esperança de contemplar o arco-íris.


Cris M. C. Ramos
(Apenas mais uma declaração de amor em um mundo real)

PS: Só pra você saber meu querido amigo de infância... Ainda te amo do mesmo jeito., com muitos coraçõezinhos voando em volta da minha cabeça quando te vejo.


Sobre as estrelas...


Pra não dizer que não falei das estrelas...
Algumas caem aqui na Terra de tempos em tempos.
Algumas crianças são a melhor definição delas.
São raras.
São diferentes.
São chamadas Especiais.
Possuem dons e talentos peculiares, únicos que precisam ser estimulados, que precisam ser descobertos como um tesouro a ser buscado pelos que delas cuidam.
Algumas pessoas são escolhidas aqui nessa Terra para essa tão nobre tarefa de amá-las, de guia-las no bom caminho. E quando pensam que as estão ensinando, na realidade estão aprendendo com elas, dia após dia a importância de um abraço, a paz de um sorriso, a beleza do simples, a celebração das pequenas conquistas e das grandes também... Porque a vida é um presente pra quem é diferente e pra quem acha que não é.
É claro, que às vezes o cansaço chega para ambos os lados.
E juntos nessa caminhada, seguem de mãos dadas... Nessa troca de amor infinito, fazendo do mundo um lugar muito mais bonito.

Cris M C Ramos
(Para Leila Maria, uma das estrelas mais brilhantes que já conheci.)

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Profiles


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quarta-feira, 15 de julho de 2020

Porta-retratos...

Há alguns anos viajei para outro Estado em férias, para me permitir ficar ao sol e beber água de coco enquanto contemplasse as ondas do mar, sem me preocupar com as horas.

Coisa boa é poder estar dentro de outras culturas, ainda que não seja fora do País. Gosto de conhecer novos aromas, novos sabores e claro, novas pessoas. A raça humana em todo o seu eclético estilo de vida, conceitos, valores, sempre me inspiram boas histórias.

Nessa viagem, conheci Franciscleyde, uma mulher casada, mãe de um casal de filhos, por volta de seus vinte e nove anos, dona de uma cadela da raça Pinscher, que dispensa comentários, chamada Dalvanira, morando em um bairro nobre da capital do Estado.

Visitei a casa de Francis, como era carinhosamente chamada pelos mais próximos, para um café da manhã, pois em seguida, ela e a família me levariam para conhecer pontos turísticos e uma praia deserta em um local paradisíaco. 

Reparei na sala de Francis, enquanto a aguardava, em uma estante de madeira antiga e escura, uma infinidade de porta-retratos. Não conseguindo identificar nenhum de seus familiares ali, resolvi perguntar quem eram aquelas pessoas no momento em que ela veio me cumprimentar. Para a minha surpresa, Francis me explicou que simplesmente comprara os porta-retratos exatamente pelas imagens que estavam ali, que em sua opinião eram bonitas. Eram as fotos perfeitas em um mundo perfeito. Concluiu dizendo que gostaria de ser como aquelas mulheres ou ter famílias como aquelas. 

Fiquei chocada e ao mesmo tempo sem saber o que dizer para Francis. Não a julguei, não dei-lhe lições de moral ou qualquer coisa do gênero. Eu sorri, coloquei um de meus braços sobre seus ombros e perguntei sobre o café da manhã. Em seguida ela me levou para uma sala, onde sua família já nos aguardava.

Café da manhã dos bons, deferente aqui do Rio. Jambo, suco de caju, cará, macaxeira, leite, cuscuz, manteia de garrafa... E para levar em nosso passeio até a praia deserta, Susi (apelido de Lidinalva), a empregada, separou alguns mariscos no molho de coco e outros no de tomate, caranguejo, umas latinhas de Pitu (eu nem bebo), refrigerante, bolo de chocolate e para me agradar, uma feijoada. Tudo isso arrumado, com todo o carinho e a fartura da hospitalidade e amor que os nordestinos possuem.  

Bem diferente do cardápio carioca. Eu confesso que me limitava aos picolés e sanduiches naturais vendidos nas praias do Rio, o que me fez lembrar de uma senhora , vendedora ambulante, certa vez, em Grumari, vestida de vaquinha e da Kombi, o carro da pamonha e cural, que na minha opinião se tratava de uma multinacional, pois passava em todos os lugares do Rio, com a mesma gravação emitida pelos auto-falantes presos no teto do veículo.

Voltando à Francis e sua família, tirei muitas fotos deles juntos e separados naquele dia. Depois coloquei em porta-retratos e dei-lhe de presente no final de minha viagem. A melhor parte foi ver a expressão dela percebendo o quanto eram fotogênicos. As fotos ficaram realmente lindas. Antes de ir embora, as vi uma a uma ocupando o lugar das outras na estante e fraguei Francis algumas vezes fazendo selfies com caras e bocas, enviando em seguida para o marido no escritório onde ele trabalhava.

Não sei em que parte do caminho Francis perdeu a beleza do olhar em relação a si mesma e a sua família. Talvez tenha se casado jovem demais e esperava viver uma vida como nas telenovelas ou nos filmes de Hollywood.

A gente tem dessas coisas na adolescência. De querer ser igual a alguém famoso ou de se casar com um dos integrantes do Menudo, mas tudo isso passa né?

(pausa pra pensar)

Eu acho que seu tivesse o bumbum e as pernas da Beyocé, a boca da Joly, os cabelos da Gisele, a cintura e os peitos da Barbie... Eu ficaria muito melhor.  Sei lá,  talvez eu me tornasse uma espécie de noiva do Frankenstein, com uma beleza monstruosa.

(brincadeirinha)

O que eu aprendi com Francis?

Se ame acima de tudo, se sinta na hora de fazer uma fotografia. Transborde beleza. Contagie, inspire.

Às vezes passamos tempo demais sonhando, idealizando e a gente se esquece de ser feliz. De fazer do que temos ou somos,  nossas pequenas felicidades certas, imortalizadas pelas lentes de uma câmera que congela o momento fora dos arquivos da memória. Pra que os nosso olhar visualize e faça nossa mente lembrar do que foi bom, que é e que pra sempre será, construindo a nossa história. 

Não se reprima.

Cris M C Ramos

 

PS.: Alguém sabe se aquele garoto moreninho, aquele que tinha uma falha no dente da frente, que era o meu preferido do grupo está solteiro? Só pra saber mesmo.