Certo dia tive o prazer de conhecer o Bene da Maria e a Maria do Bene.
A maior história sobre desencontros que eu já ouvi na minha vida. Curiosamente algumas pessoas insistem em deixar a felicidade de lado para irem atrás de promessas vãs, de momentos ao vento.
Como costuma dizer um amigo meu "O que Deus risca, ninguém rabisca."
Bene amava Maria, desde o dia em que a viu. Maria também o amava, mas fingiu que esse a amor não viu. Ele até propôs que mais do que amigos eles fossem, mas ela coração duro alegou que a amizade isso estragaria.
Era garota namoradeira e ele não deixou por menos. Conheceram e desconheceram quase todos que no mundo existiam. Encontravam-se de vez em quando para por o papo em dia. Contar de suas conquistas e sobre um futuro que prometia.
Então continuaram seguindo na mesma estrada, lado a lado, mas sem ser de mãos dadas. Até que um dia cada um foi atrás de sua própria jornada. Ela no exterior e ele nas forças armadas.
E o tempo foi passando, ligeiro que nem ele só.
Maria ganhou um corpão de dar inveja a qualquer uma, não lembrava nem de longe aquela magrela que fora um dia. Voltou ao Brasil faceira, com muitas malas e uma frasqueira. Mas ela ficou metida diante de todos os presentes ganhos pela vida. Sentia-se uma rainha.
O Bene a olhava de longe com medo de declarar um amor que ainda ardia. Resolveu estudar mais e trabalhar mais para à Maria dar a vida que ela merecia. Um castelo do jeito que ele sempre sonhou que um dia seria.
Porém em uma manhã de grande temporal, Maria subiu ao altar com um João que nem estava na história. E o coração do Bene partiu-se em mil pedacinhos, de um jeito que nem colando resolvia. As marcas sempre estariam lá. Doía, ardia.
E o tempo continuou passando e pro Bene foi generoso. Trouxe-lhe de terras longínquas uma Lusa fenomenal o fazendo acreditar que um novo amor a casamenteira internet o fez encontrar. E Bene até começou a se sentir popular e da Maria não queria nem mais falar.
E mais uma vez o tempo começou a correr, sem olhar pra trás, sem esperar, sem obedecer e o casamento da Maria à ele não conseguiu resistir e ela viu tudo ruir.
Um dia sentada sozinha, em uma sala vazia, lembrou-se daquele amor de infância, que a fazia acreditar que tudo seria possível, que tudo seria infinito, que o mundo seria um lugar muito mais bonito e ao Bene foi procurar.
Mas foi a vez dele subir ao altar. Maria viu tudo de longe, para ninguém a ela ali notar. Chorou baixinho, escondida vendo o mundo girar, levando pra caminhos bem longe aquele que na infância ela descobriu amar.
Passando voando foi o tempo, mudando estações, construindo ninhos, renovando as folhas, flores e espinhos, nessa ciranda gigante que muda destinos.
Certo dia, o Bene acordou sozinho. Como em um pesadelo, um vento forte desfez o seu ninho. Lembrou-se de Maria e a ela foi procurar, mas não a encontrou, em outra cidade foi morar. Soube que ela triste e sozinha, foi tentar a vida em outro lugar.
E o Bene olhou a estrada, desgastada pelo tempo, que não sabia onde iria dar. Pensou em seguir por ela, talvez encontrar Maria, mas decidiu por voltar. Escolheu aproveitar os momentos e as pessoas que conhecesse, sem ter com que se preocupar. Viver sozinho era uma festa.
Maria ficou por um tempo percorrendo a Luisiana. Depois foi para o Texas e conheceu um vaqueiro, mas as coisas não foram adiante. Já era pessoa vivida, dessas que não se iludia mais na vida. Resolveu só curtir e compartilhar.
Mais uma vez seguiu o tempo correndo, quase a voar. Os anos não perdoaram. Para o Bene, cabelos brancos... Maria decidiu disfarçar e de loiro pintar, já se sentia aborrecida nos quilos extras, não adiantava treinar.
Porém um dia, nessas curvas que a vida dá, uma esquina traiçoeira fez o Bene e a Maria esbarrar. Esse amor que é por inteiro, se conhece desde sempre, mesmo se com o tempo a fisionomia mudar, pois tudo acontece no olhar e vai direto ao coração.
Maria e Bene enfim deram-se as mãos para continuar naquele caminho, feito só para eles dois. As marcas que o tempo deixou em cada um, só serviu para lembrar de todo o amor que um dia deixaram passar, mas a felicidade desse instante fez valer a pena esse reencontrar.
E os dois, ao pé do altar, uma poesia de Drummond decidiram declamar: "Eu te gosto, você me gosta, desde tempos imemoriais.
O amor tem dessas coisas... Nos faz sentir imortais.
(e em tudo rima)
Cris M C Ramos
Prelúdio - Fragmentos de um amor atemporal.