- Nem sei porque fui remexer nisso... Ele está sozinho.
- É a sua chance de se declarar, amiga.
- Eu não sei. Acho que sou melhor escrevendo. Vou mandar uma carta, com várias páginas, quase um livro para caber todo esse meu amor.
- Que carta que nada, nós homens gostamos de encontros.
- O Jardim da Saudade?
- Sim, esse.
- Fico até arrepiado só de imaginar você marcando um encontro com ele em um cemitério. Se for embarcar nessa, marca logo a meia-noite para criar aquele clima.
- Fala sério!
- Se prepara para esse encontro! Faz uma lipo! Ia levantar a sua auto-estima.
- Está me chamado de gorda?
- Não, mas é que as mulheres estão sempre se achando acima do peso.
- Só você! Tô nem aí se ele me achar gorda, mas essa sua ideia de encontro não vai rolar.
- Sei lá, talvez ele goste de encontros em lugares inusitados. Você poderia ir toda de preto, ia ficar mais magra...
- Você já está me aborrecendo, sabia?
- Com essa história de encontro?
- Não, em me chamar de gorda.
- Só brincando para te descontrair.
- Você não existe.
- Sinceramente amiga, vai fundo e marca um encontro com ele, no cemitério a meia noite ou em um bar a meia luz.
- Por que? Tem algum problema se for às claras, à luz do dia?
- Não, mas encontro de dia é com a avó, com a tia, com os pais... Se é com alguém que você já arrasta um bonde há maior tempão, melhor investir nisso. (risos)
- Eu o acho meio estranho, mas no fundo é um cara legal.
- O maior problema para mim hoje, a essa altura da minha vida é ter que procurar alguma coisa no fundo. Tem que estar na superfície. Nada de eu ter que mergulhar pra poder encontrar. Eu nem sei nadar.
- Mas amiga o que geralmente está boiando costuma não ser muito bom. Até polui e deixa a água proibida para banhos.
- Você viaja na maionese hein !
- Só estou sendo realista.
- Vi uma foto dele outro dia. Ele está com um corpão, nem parece aquele Cotonote que a gente conheceu. Marchar fez um bem danado pra ele. Tem até braço agora para fazer uma tatuagem. Naquele tempo só cabia a linha do Equador e olhe lá.
- (risos)
- Acho que não tenho muita confiança para marcar um encontro.
- (risos)
- Acho que passei dessa fase, devo estar ficando velha.
- (risos)
- Você está rindo do que?
- Desculpe amiga, mas não consigo parar de imaginar você sentada em uma lápide, a meia noite, esperando por ele em Sulacap. Ia assustar até os vigias. Daria um bom enredo para um filme no estilo do José Mojica.
- Eu ia fazendo o tipo mulher misteriosa, de branco e enfiava logo uma aliança no dedo dele.
- Sei não amiga, acho que ele ia correr até o Oiapoque.
- Você sabe que sou de extremos. Quem vai até o Oiapoque, tem que ir também até o Chuí. Eu pego esse homem na curva. Não vai ter escapatória.
- Quer saber? Você está me assustando? Escreva uma carta.
- Vou escrever...
Cris M C Ramos
Trecho do livro "O primeiro beijo que você não me deu"
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